À espera que o telefone volte a tocar – Episódio 8

À espera que o telefone volte a tocar – Episódio 8

4 de Junho, 2021 11 Por Pai paratodaaobra

Se até àquela primeira chamada, eu achava que tinha passado por alguns momentos de grande ansiedade, agora a ansiedade tinha ganho todo um novo significado, no meu vocabulário. Agora, eu já sabia que havia a possibilidade real de acontecer dentro de muito pouco tempo. Mas também podia não acontecer rigorosamente nada, porque podia não ser a minha candidatura a ser escolhida.

Eu não fazia a menor ideia de quantas candidaturas estavam a responder àquela criança. Se eram muitas ou poucas, mais antigas ou mais recentes. Nada, rigorosamente nada.

E ao longo deste tempo de espera, depois do primeiro telefonema, em Agosto, passei por diversas fases. Se, por um lado, a ansiedade era inexplicavel, por outro, acabei por aproveitar esse tempo para ir organizando a minha vida para a possibilidade dessa (tão esperada) chegada da criança. E esse foi o lado bom. Mas claro que, na altura, eu não queria ter tempo para organizar coisa nenhuma. Acho que isso acabou por surgir naturalmente, mas o que eu queria mesmo era que me dissessem: SIM, foi a candidatura escolhida.

E depois, porque ainda demorou algum tempo, as emoções foram oscilando. Primeiro o que eu queria era que me ligassem rapidamente, a dizer que era eu. Mas chegou a uma altura em que eu já só queria uma resposta e nem era tanto por mim, mas sim pela criança. Claro que eu nunca deixei de querer ser selecionado, mas a dada altura eu só queria que houvesse uma resposta, para ter a certeza que aquela criança seria integrada, rapidamente, numa família. Na sua nova família.

Ao longo destes três meses, que durou esta situação, mantive um estreito contacto (ainda mais estreito, na verdade), com as técnicas que acompanhavam o meu processo. Às vezes ligava só para desabafar, só para partilhar a minha angústia. E contei sempre, sempre, com um apoio incrível da sua parte. Mais do que apoio, chegou a ser colo, mesmo.

Várias vezes, ao longo de todo o processo me ocorreram questões como: “Como será a criança?”, “Será que dormiu bem?”, “Como estará vestida?” entre tantas, tantas outras. Eu tinha uma noção muito presente da existência daquela criança. Nesta fase isso ganhou uma dimensão gigantesca e houve alturas em que chegou a ser, mesmo, sufocante. Momentos de brutal angústia, noites e noites a sonhar com tudo isto. Cheguei a sonhar que tinha sido escolhido mas depois me tinham dito que era um erro e que não seria eu. Enfim, todos os medos e inseguranças a revelarem-se, de forma muito acentuada. E este é um exemplo que, mesmo quando tudo corre muito bem, isto não é um mar de rosas. Até porque a parentalidade (seja ela de que forma for), nunca é um mar de rosas.

Todas as pessoas à minha volta sabiam que eu estava em processo de adoção. Mas muito poucas souberam desta fase, apenas a família mais chegada e um amigo muito próximo. E quando todas as outras pessoas me perguntavam pelo processo, eu ficava de coração ainda mais apertado e dizia, simplesmente: “nada de novo, ainda à espera”.

Um dia a espera terminou. Um dia o telefone voltou a tocar. Um dia eu soube o nome do meu filho. E soube que já era seu pai, só não o conhecia, ainda. E esse momento foi um dos momentos mais bonitos e especiais (e mais caricatos e inesperados) da minha vida.