Era uma vez…
Era uma vez…
“Era uma vez…” Assim começam todas as histórias de encantar. Daquelas que nos oferecem sorrisos e angústias, alegrias e tristezas, mas que no fim tudo acaba bem. A vida não tem guião e não é do fim que quero falar. Quero, sim, partilhar convosco o início desta história que começou há pouco mais de dois anos e que, diariamente, me oferece todas as emoções (e mais algumas).
É uma história de amor, de (re)encontro, de um pai e um filho que, acredito eu, nasceram para se encontrar. Para mim, a mais bonita história de amor (perdoem-me a imodéstia). Ao longo do tempo irei partilhar cada pormenor deste caminho mágico dos últimos anos. Porque cada pormenor desta história merece ser contado e partilhado.
Ser pai era um sonho antigo. O mais antigo, na verdade. E ser pai desta forma foi, desde sempre uma escolha, absolutamente consciente e clara na minha cabeça. Consciente de que a parentalidade pela via da adoção é diferente da parentalidade pela via biológica nos desafios, na “bagagem” que traz uma criança que nos chega a casa vinda de outra casa (de acolhimento), mas certo de que seria – se assim quiséssemos – igual no amor.
Na reta final da fase de pré-adoção, pediram-me para escrever um texto sobre aquilo que era, para mim, a parentalidade pela via da adoção. Não sei escrever senão pelo que me dita o coração e foi isto que senti no momento. Há mais de um ano. Reli-o e não alteraria uma única vírgula. Talvez lhe acrescentasse – assim me permitissem as palavras – maior carga emocional.
Filho. Parido. Nascido. Chegado a este colo do pai que por ele esperou…. a vida inteira.
Parimos os filhos mesmo quando não nos nascem da carne e não nos rasgam a pele. Porque nos rasgam o peito inflamado por um amor que empurra para fora do peito um coração bêbado de amor que, em chamas, reclama reconhecer o que nunca antes sentiu. Parimo-los a cada vitória, a cada conquista, a cada noite febril que conhece uma aurora no colo que lhe pertence.
Mesmo que na pele não nos deixem marcas deixarão, para sempre, em todos e cada recanto do nosso ser. Da nossa alma. Do nosso coração que bate descompassado na busca do compasso do pequeno órgão encostado ao nosso. Roubam-nos todas as certezas de outrora e trazem a mais doce e eterna dúvida sobre nós e o quanto conseguimos (ou não) oferecer-lhe mais lábios rasgados do que lágrimas caídas.
Rasgam-nos sim, os filhos. Todos os filhos. Chegados de todos os modos e por todos os lados. A visceralidade da entrega vem da alma, não vem do sangue que por ele entregarei, até à última gota, se preciso for. E, eternamente, deixarei que a alma se rasgue e se renove. Obrigado, meu filho”
E aqui começa a viagem desta partilha. Uma história que irei partilhar, em “episódios”, todas as semanas. Em cada um deles contarei um pouco desta aventura. Do sonho à concretização. Espero-vos desse lado.
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