Era uma vez…

Era uma vez…

18 de Março, 2021 17 Por nuno
Era uma vez…
“Era uma vez…” Assim começam todas as histórias de encantar. Daquelas que nos oferecem sorrisos e angústias, alegrias e tristezas, mas que no fim tudo acaba bem. A vida não tem guião e não é do fim que quero falar. Quero, sim, partilhar convosco o início desta história que começou há pouco mais de dois anos e que, diariamente, me oferece todas as emoções (e mais algumas).
É uma história de amor, de (re)encontro, de um pai e um filho que, acredito eu, nasceram para se encontrar. Para mim, a mais bonita história de amor (perdoem-me a imodéstia). Ao longo do tempo irei partilhar cada pormenor deste caminho mágico dos últimos anos. Porque cada pormenor desta história merece ser contado e partilhado.
Ser pai era um sonho antigo. O mais antigo, na verdade. E ser pai desta forma foi, desde sempre uma escolha, absolutamente consciente e clara na minha cabeça. Consciente de que a parentalidade pela via da adoção é diferente da parentalidade pela via biológica nos desafios, na “bagagem” que traz uma criança que nos chega a casa vinda de outra casa (de acolhimento), mas certo de que seria – se assim quiséssemos – igual no amor.
Na reta final da fase de pré-adoção, pediram-me para escrever um texto sobre aquilo que era, para mim, a parentalidade pela via da adoção. Não sei escrever senão pelo que me dita o coração e foi isto que senti no momento. Há mais de um ano. Reli-o e não alteraria uma única vírgula. Talvez lhe acrescentasse – assim me permitissem as palavras – maior carga emocional.

Filho. Parido. Nascido. Chegado a este colo do pai que por ele esperou…. a vida inteira.

Parimos os filhos mesmo quando não nos nascem da carne e não nos rasgam a pele. Porque nos rasgam o peito inflamado por um amor que empurra para fora do peito um coração bêbado de amor que, em chamas, reclama reconhecer o que nunca antes sentiu. Parimo-los a cada vitória, a cada conquista, a cada noite febril que conhece uma aurora no colo que lhe pertence.
Mesmo que na pele não nos deixem marcas deixarão, para sempre, em todos e cada recanto do nosso ser. Da nossa alma. Do nosso coração que bate descompassado na busca do compasso do pequeno órgão encostado ao nosso. Roubam-nos todas as certezas de outrora e trazem a mais doce e eterna dúvida sobre nós e o quanto conseguimos (ou não) oferecer-lhe mais lábios rasgados do que lágrimas caídas.
Rasgam-nos sim, os filhos. Todos os filhos. Chegados de todos os modos e por todos os lados. A visceralidade da entrega vem da alma, não vem do sangue que por ele entregarei, até à última gota, se preciso for. E, eternamente, deixarei que a alma se rasgue e se renove. Obrigado, meu filho”
E aqui começa a viagem desta partilha. Uma história que irei partilhar, em “episódios”, todas as semanas. Em cada um deles contarei um pouco desta aventura. Do sonho à concretização. Espero-vos desse lado.