A ansiedade aumenta – Episódio 2

A ansiedade aumenta – Episódio 2

2 de Abril, 2021 4 Por Pai paratodaaobra

É natural que a ansiedade cresça quando sentimos que já fizemos o que podíamos e que agora dependemos de terceiras pessoas para que processo avance. No episódio anterior ficámos aí. Papelada tratada. E agora?

No meu caso, o contacto foi rápido após essa entrega. Não sei precisar exatamente quanto tempo demorou, mas sei que não demorou mais do que duas semanas até que me chamassem para a primeira entrevista/conversa. (Claro que a mim me pareceram anos). Aqui vamos nós, pensei…. e, novamente… Boca seca, pernas a tremer, ansiedade “aos gritos”.

Pediram-me para reservar a manhã para este assunto, porque levaria pelo menos duas horas e meia. Cheguei lá e fui extraordinariamente recebido, por quem tem muitos anos disto e sabe bem a ansiedade em que está alguém que se candidata à adoção. O estudo de candidatura é feito por uma equipa de duas pessoas: um@ psicólog@ e um@ assistente social. No meu caso eram duas mulheres. Extraordinárias profissionais que, desde o primeiro momento me mostraram que o objetivo era que tudo corresse da melhor forma e, para tal, era importante a minha total abertura e transparência.

É inevitável que, pelo menos no início, não nos sintamos tentados a medir o que dizemos, a forma como dizemos. É natural que nos sintamos tentad@s a dizer aquilo que achamos que querem ouvir. Mas não só não adianta como não traz nada de benéfico ao processo. Outro sentimento comum para muitas pessoas que se candidatam à adoção é a de invasão de privacidade, a sensação de que estão a tocar-nos na mais profunda intimidade. Na nossa, da nossa família e até daqueles que nos rodeiam em várias áreas das nossas vidas. E estão. E é importante que estejam. Não por um interesse pessoal ou quase “voyeurista” daquilo que guardamos dentro de nós mas sim porque, por um lado é fundamental fazer essa avaliação e esse estudo de candidatura. E por outro lado quanto maior for o conhecimento sobre quem se candidata e melhor avaliadas forem as suas expetativas, maior a probabilidade de um bom “match” entre a criança e a família. Não podemos, nunca, perder de vista o facto mais importante de tudo isto: estamos a falar da vida de crianças. E estamos, sempre, à procura da melhor resposta para cada uma delas. Todo o processo trata de procuras famílias para crianças e não crianças para famílias.

É, por tudo isto, fundamental que vamos com a maior disponibilidade possível e que trabalhemos, de forma dinâmica e em conjunto com @s técnic@s todos os aspetos importantes. Que lhes confessemos as nossas ansiedades, os nossos medos, os nossos limites. Não tenho dúvida nenhuma que – além da sorte gigantesca que tive com o filho que a vida me deu – parte do sucesso de todo este processo se deve às longas horas de conversa que tive com aquelas duas técnicas e ao quanto isso se tranformou numa aferição muito precisa das minhas capacidades e expectativas.

Este período de estudo de candidatura tem um prazo estipulado. E aqui se desfaz um dos mitos associados ao processo de adoção. Há muitas pessoas que acham que ao longo de todo o tempo de espera pela chegada da criança, as famílias estão em “avaliação”. Isso não é verdade. A lei prevê que o estudo da candidatura deve ser feito no prazo máximo de seis meses. Pode, por razões atendíveis e justificadas, ser prolongado (Por exemplo, quem se candidata tem um período de ausência de dois meses por questões profissionais). Ainda assim o prolongamento desse prazo é sempre conversado e acordado com as pessoas candidatas. O tempo de espera pela chegada da criança é outro assunto que falarei futuramente.

Todo o processo é dinâmico e, portanto, não existe o momento do sim ou não, do tudo ou nada. Ninguém “passa” ou “chumba” na última entrevista. Ao longo de todo o estudo de candidatura, vamos percebendo para que lado a coisa se encaminha. Mas claro que até que nos digam, ou que recebamos o documento oficial onde conste que estamos aptos, passamos o tempo em modo: Boca seca, pernas a tremer, ansiedade “aos gritos”.

O meu processo foi muito leve e foram muitas as questões que abordámos e aprofundámos. Ri, chorei, diverti-me, emocionei-me ao longo destes seis meses. E as questões que abordámos e discutimos são muito diferentes daquelas que muitas pessoas pensa que nos fazem, durante a dita “avaliação”. Conto-vos tudo no próximo episódio.