Agora é só esperar – Episódio 6
Chegámos, finalmente, ao momento mais “temido” por quem se candidata a adoção: a espera.
Até este momento, de alguma forma, eu sentia que havia qualquer coisa que eu podia fazer, de forma ativa, para o processo. As reuniões, as formações, a escolha das pretensões. Tudo isto criava, em mim, uma certa segurança de que tinha “a coisa controlada”, mas eis que chega a última sessão de formação e nos dizem a tal frase que não gostamos: agora vai para casa e aguarda. E lá voltamos. Lembram-se? Boca seca, pernas a tremer, ansiedade “aos gritos”.
Agora é que são elas, pensei. Como é que eu vou gerir isto daqui para a frente? Qual o limite de tudo isto? Como se lida com a ansiedade da chegada do dia que mais desejamos na vida? Pior, sem ter a mais pequena noção de quando isso acontecerá.
Há, nesta altura, uma tentação imensa de, de facto, suspender a vida e ficar quietinho só à espera que o telefone toque. De não entrar em aventuras, não mudar de emprego, não criar novos desafios, não viajar porque, a qualquer momento, o telefone há-de tocar. Se, por um lado, nos parece absurdo fazê-lo, por outro, a vontade é tanta que chega, mesmo, a ser tentador. E aqui, uma vez mais, uma palavra às técnicas que me acompanharam durante o estudo de candidatura e que sempre estiveram disponíveis para me ajudar a gerir tudo isto.
É, então, mais do que necesário criar estratégias para não entrar numa espiral que nos pode levar a estados emocionais que não queremos e não precisamos nesta fase.
Eu decidi que continuaria a fazer a minha vida normal, que não limitaria nada, até porque para mim era claro que havia um perigo real de isso gerar uma frustração em mim que poderia vir a refletir-se, mais à frente, na relação com a criança. Não devemos esquecer-nos que, antes de pais e mães, somos pessoas com sonhos e desejos e não devemos abdicar deles.
A única coisa que eu fiz de diferente foi, sempre que viajava, comprava um seguro de viagem que cobrisse uma desistência minha à última hora (que nunca aconteceu).
Foram muitos os contactos que fiz com as técnicas, foram muitas as conversas que tive com elas e com as pessoas próximas de mim, foram muitas as vezes que respondi: “ainda não sei de nada, estou à espera”.
Durante todo este período pensava muitas vezes, sozinho, à noite: o que estará a fazer @ meu/minha filh@? O que terá vestido? Será que jantou? Durante este período, cheguei a sentir uma espécie de “saudades de um futuro por concretizar”.
Mais uma vez, a minha família foi um suporte gigante e a coisa levou-se de forma, mais ou menos, tranquila. Até que chegou o dia em que o telefone, finalmente tocou. E o momento foi maravilhoso. Mas isso, conto-vos no próximo episódio.
NOTA IMPORTANTE: Uma das coisas que muitas pessoas não sabem e que é fundamental saber: o processo tem a validade de três anos, desde a data de entrega da candidatura. Ao fim deste tempo, a candidatura deixa de ser válida, pelo que – muito importante – cabe a quem se candidata, manifestar a sua intenção de continuar à espera, caso a criança não chegue nesse período.
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