Fim de semana a dois

Fim de semana a dois

27 de Abril, 2021 4 Por Pai paratodaaobra

É, mais ou menos, consensual que um casal precisa de momentos a sós, sem crianças. Para namorar, para recuperar forças, para recarregar baterias e até para discutirem, tranquilamente, perspetivas e modos de agir na parentalidade. É saudável e necessário que isso aconteça.

Depois, por outro lado, há pais e mães que não o fazem e outr@ que, fazendo-o, são invadidos por sentimentos de culpa.

Acho que esses sentimentos são naturais e podem surgir a cada um@ de nós. Queremos o melhor para @s noss@s filhos e se um fim de semana sem el@s nos faz pensar que isso os magoa, naturalmente que nos é desconfortável.

No fim de semana passado eu e o Miguel decidimos ir para o Alentejo, só os dois. Pela primeira vez. E aqui começa a nossa gincana por esta aventura.

Habitualmente só comunicamos ao Duda que algo vai acontecer, em cima do acontecimento, para que não se gere um constante sentimento de ansiedade (quer seja por algo que ele quer muito, quer seja por algo que sabemos, à partida, que ele não vai adorar). Excecionalmente, desta vez, eu descaí-me algumas semanas antes. E foram semanas, digamos…. “animadas”. Foi um tema costante e recorrente. Uma das coisas mais engraçadas e “discretas” que ele nos disse, para manifestar o seu desagrado, foi “vocês têm a certeza que têm dinheiro para ir pagar uma casa no alentejo?”. Rimos, claro. Mas também absorvemos a mensagem.

É impossível fazer uma associação direta entre os dois factos de que quer falar-vos, mas por um lado, todas as crianças reagem mal a que os pais e mães se ausentem sem eles. Por outro lado, é igualmente verdade que as crianças que são filh@s pela via da adoção têm, subjacente, de alguma forma, um sentimento de abandono e é relativamente fácil que, de forma inconsciente, lhes provoquemos memórias mais duras da sua breve existência. Nunca saberemos, claro, se há conexão entre estes dois factos. Provavelmente, o Duda, mesmo que fosse filho biológico teria o mesmo comportamento. Ou não.

O Duda já tinha ficado com outras pessoas da família, mas as ausências foram sempre justificadas. Uma festa de crescidos, com amigos. Uma ausência profissional. E ele percebeu e acedeu sempre, com muita facilidade. Agora, irem os dois, namorar, passear, e não me levarem? Aquela pequena cabeça não conseguia entender.

Quando o Duda chegou e quando ainda era só eu, nunca fui passar fins de semana de lazer. Depois o Miguel chegou às nossas vidas e durante algum tempo, achámos prudente não o fazer. A isto soma-se uma pandemia e as suas limitações e a verdade é que, já com sete anos, o Duda foi confrontado com esta situação pela primeira vez. E não gostou.

O que fazer então? Bem, não há fórmlas mágicas, mas para nós a comunicação é sempre o caminho. O Duda expressa-se muito bem e consegue, muitas vezes, dizer o que sente. E foi perentório em afirmar que ficou triste porque não o levámos. E ainda bem que o faz. Para mim é um sinal claro de que ele sabe que pode, sempre, falar do que sente.

A verdade é que, posso garantir-vos, este fim de semana foi maravilhoso. Pelo que nos reforçou enquanto casal, pelo que tivemos capacidade de conversar fora da rotina, pelo que pudemos discutir sobre o que cada um de nós pensa e sente. E também pelas saudades que sentimos do Duda, da nossa casa e da nossa rotina que só nos mostra, de forma clara, o quanto somos afortunados. De facto, às vezes, é preciso afastarmo-nos, para não perder de vista a valorização que damos ao que temos. E no nosso regresso, o Duda “fez as pazes” connosco e sentia-se que não havia espaço para zangas nem birras. O importante é que estávamos juntos de novo.